Tuesday, May 18, 2010

SOBRE AS PEDRAS QUE AMÉLIA TOLEDO PÔS NO MEU CAMINHO


Visitei a exposição com obras de Amélia Toledo em 2007 no MAC (Museu de Arte Contemporânea do Centro Dragão do Mar). Estava passando por um processo de transformação pessoal no período, saindo de um momento particularmente doloroso emocionalmente quando visitei essa exposição. Cito essas questões pois acredito que parte de minha visualização das obras nasceu deste contexto particular.
Fui várias vezes a exposição, por quê, a meu ver, Amélia havia criado para mim um espaço para pensar. Eu não ia a exposição ver a obra, eu ia a exposição estar na obra.
Ao chegar,primeiramente eu cumprimentava as grandes pedras de quartzo com um abraço. Em seguida, deitava minha cabeça nos frios travesseiros de pedra, onde eu podia ter sonhos e pensamentos pretos, rosas, verdes e azuis, dependendo do travesseiro que eu escolhesse.
Algumas vezes, as obras viravam salas de estar ou de visitas, onde eu convidava meus amigos a ficar um pouco, conversar da vida ou só deitar no interior da grande pedra projetada sobre nós, só ser, só ficar sendo pedra no coração sensível do quartzo.
E quando precisava de solidão ou de espera, Amélia construiu para mim um deserto. Um conjunto de grandes pedras, cinzas e marrons refletidas e multiplicadas infinitamente em folhas de metal, mas apenas a quem se deixasse sentar e ficar.
As obras de Amélia criam universos paralelos, bolhas, espaços de estar e de contemplar. Elas exigem que o observador/participante/obra entregue-se ao tempo difuso da contemplação, um tempo mais diluído e amorfo que o tempo da rotina e do relógio.
Mas esse tempo de contemplação não se refere ao contemplar dos dotes e qualidades da artista, mas sim uma contemplação daquele que se insere na obra, que se aventura nos intrincamentos de ser pedra. Corresponde quase ao tempo lúdico da criança que brinca sozinha no parque de areia, ou no quintal de casa, inventando tudo, voltada apenas para seu próprio mundo.
Comparo o posicionamento que Amélia Toledo assume em relação a suas obras, ao posicionamento do Ator Invisível conceituado por Yoshi Oida. Ele fala que o ator visível aponta para a lua e os espectadores dizem:“Ó! Como é belo seu gesto de apontar para a lua!”, mas que quando o ator invisível aponta para a lua, todos os espectadores poderão falar: “Ó! A Lua!”, sem se quer darem conta da presença do ator.
Amélia Toledo com seu trabalho aponta para nós. E o que vemos é a nós mesmos.

Nathália Forte

18 de maio de 2010